A Bússola, capítulo 2: contos de fada
uma narrativa interativa com seus leitores
Quando uma folha foi arrancada de um galho pelo vento e me atingiu, fui levada com tudo contra o tronco de uma árvore, o pózinho mágico se espalhando como confete pelo impacto.
— Então era você quem estava me seguindo!
A voz firme de Helana foi dirigida a… MIM?!
Com a mente disparando ao encontrar aquele olhar azul acusador, a fadinha bateu as asas em retirada, mesmo ainda tonta do impacto. Sendo do tamanho da palma de uma mão e com as folhas que dançavam com o vento, não foi difícil despistar e olhar de Helana.
A garota olhava ao redor, esquadrinhando cada falha minimamente visível, o silêncio se assentava no cenário quando Helana sentiu seu nariz coçar, seu espirro mais parecendo um urro. Ao cobrir a boca, seus dedos voltaram com partículas de uma poeira dourada. Pó de fada.
A pequena fada não pensou no brilho de suas asas iluminando o botão da flor que fez de esconderijo. Helana andou contra o vento, baixando o olhar e encontrando flores selvagens, cuja uma brilhava atrás dos arbustos com a silhueta feminina pequena.
Precisou conter o ânimo, com cuidado segurando o botão, prendendo a respiração para não assustar a criaturinha mágica. Já tinha ouvido algumas vezes que são sujeitas a morrer de susto quando os coraçõezinhos aceleram demais.
— Eu não vou te machucar, só quero respostas, fada.
A voz mansa e sussurrada não era tão acolhedora para a narradora quanto Helana pensava. Parecia mais uma armadilha com convite cínico. Entretanto, a valente fadinha decidiu confiar na mercenária-em-treinamento…
De peito estufado e cabeça erguida, abriu as pétalas da flor e encarou a humana. Não esperava o tremor nas pernas ao estar tão perto e sendo vista por um ser tão grande e ameaçador de cara fechada, a olhando de baixo.
— M…meu nome é.. – respirou fundo para controlar os nervos, batendo o pé no chão. — Inima. Meu nome é Inima.
Todo o esforço e luta interna para se mostrar destemida foi inútil. Ainda mais porque a Helana só conseguia ouvir tilintos. Parecia o som de um sino dos ventos, um idioma que apenas os espíritos da natureza compreendiam além das fadas e Inima não se atentou a isso até que a garota se abaixou para tentar ouvir. Agora os olhos de Helana estavam na altura da fadinha, Inima relaxou com esse “nivelamento”, se sentindo mais tranquila e acenando para ela animada.
— Então, fadas realmente tilintam, isso é fofo… – Helana descobriu que não estava zangada em nenhum momento, mas assustada com o perseguidor, que se revelou uma encantadora fadinha. — O que é isso?
Apontou o livro com capa de folha pendurado por um pêlo longo de raposa em volta da cintura de Inima. A fadinha pegou o livro, animada para contar sobre, os tilintares ficando mais altos e acelerados, arrancando um riso sincero da humana.
— Espera aí, eu não entendo nada do que você diz.
Helana sorria como uma idiota, mesmo tendo nascido e crescido em Fênix, seu contato com as criaturas da natureza foi mínimo depois da infância. Ninfas, dríades e fadas adoram brincar com crianças humanas, mas não costumam se mostrar mais depois dos seus dez anos. Se não convivesse com outros constelados no dia a dia, acreditaria que essas lembranças eram sonhos infantis.
Não era uma pessoa que se dedicava à anotações, mas nessas oitavas de treinamento andava com um bloquinho de notas e um carvão esculpido para registrar seu desempenho. Pegou ambos materiais na sua bolsa tiracolo, estendendo para a fada.
— Consegue escrever?
Sorrindo, Inima sentiu seu coração se inundar de paixão pelo interesse da mulher em lhe conhecer, concordou com a cabeça, tinha estudado a escrita para fazer seu trabalho. Segurou o papel que envolvia o lápis de carvão para não sujar suas mãos e começou a escrever…
— Prazer, meu nome é Inima… – Helana lia em voz alta enquanto as palavras eram riscadas com muito cuidado. — Não queria te assustar, moro no pomar ao lado de sua casa há muito tempo e vi você crescer, estou escrevendo sua história…
As asas brilhavam enquanto a narradora voava de um lado ao outro arrastando o carvão maior que ela mesma para se comunicar. Pela reação de Helana, isso parecia ainda mais bizarro, Inima não entende como ter suas aventuras contadas poderia ser ruim, então pegou o conjunto de folhas e entregou para ela dar uma olhada.
Nas mãos de Helana, o livro cresceu, folhas verdes costuradas e marcadas com a escrita dourada do pó de fada. Ela passava as páginas, sem se decidir entre estar assustada ou admirada.
— “As asas brilhavam enquanto a narradora voava... Inima não entende como ter suas aventuras…” – Helana voltou o olhar para a fada. — Você fala de si mesma na terceira pessoa?
— Bem, eu não deveria fazer parte da história… – apoiando os pés no bloco de notas, simulava andar de um lado pro outro enquanto as asas a mantinham no ar. — Mas eu gosto muito de comentar e você acabou me achando, então eu virei parte da sua história! Não é por mal, contos de fadas precisam ser escritos para todos os mundos e até mesmo os bardos compram o que registramos, entende? É necessário passar para frente boas aventuras.
Quando Inima olhou para frente, percebeu que nada do que tinha dito foi ouvido e fechou a cara. Helana a encarava esperando que terminasse, ao invés de avisar! Se ela ao menos aprendesse o idioma das melodias…
— Espera, eu sei o que está pensando! – A humana assistia as palavras continuarem a ser registradas, mesmo sem alguém as escrevendo, formando tudo que Inima planejava para seu conto. — O idioma das melodias… é isso que fala? Por isso os músicos conseguem conversar com vocês, então?
— Só os melhores músicos, na verdade, a maioria nem entende, só as sereias sabem traduzir.
Inima se sentou de pernas cruzadas no seu livro que Helana segurava, vendo a próxima página virar e essa mesma frase sendo escrita com o encanto do pozinho.
— É legal, não é? – Mesmo tendo esse dom a vida inteira, a fada continuava a se encantar pela magia das narrativas. — Está conectado ao meu coração, e um encanto criado pelo diretor Avery faz com que o meu pozinho escreva por mim enquanto estou ocupada, tudo sai da minha cabecinha aqui!
A narradora apontou para o topo dos cabelos verdes longos, com um sorriso enorme perdendo a força quando Helana lê o nome do Mago Supremo, diretor da Academia das Cinzas. Suas asas se abaixaram, apertando os lábios ao ver como o assunto ainda era capaz de machucar a garota. Andou sobre o livro mágico e tocou o queixo de Lana com uma mão, fazendo carinho.
— Não se prenda a isso… você está seguindo um novo caminho. E vai ser brilhante, eu sei que vai, até comecei a escrever sobre isso!
Nem se incomodou em ler a tradução do que Inima dizia, Helana sentiu o conforto naquele olhar de aceitação. Se a fada realmente esteve logo ali durante toda sua vida, ela sabia do peso de cada decisão… e continuava ao seu lado, mesmo que escondida entre botões e folhas, acreditava que ela valia um conto de fadas.
Com a criaturinha tão perto, e suas asas felpudas de pólen provocando o nariz de Helana, lá veio outro espirro. Inima foi praticamente arremessada de volta para o miolo da flor, soltando uma nuvem de poeira. Lana levantou com o nariz vermelho, os olhos lacrimejando em uma crise alérgica.
O livro das fadas se fechou de pronto, retornando ao seu tamanho normal e voando para se prender à alça da fada. Estava tonta a esse ponto, com tanto pra lá e pra cá, então se limpou e prendeu o cabelo longo em uma trança, deixando que Helana se acalmasse sozinha, já conhecia as crises de espirro que a deixavam mau humorada demais desde criança.
Sem mais querer dar brecha ao sentimentalismo do momento antes, assim que conseguiu aliviar a coceira, Helana seguiu caminho chamando a fada para acompanhar. Inima voou animada e se sentou no ombro da humana, balançando as perninhas.
Foi um tempo de silêncio passando pela trilha na floresta até ver a taverna barulhenta. As luzes amarelas vazavam pelas janelas escancaradas junto de canções letradas por bêbados fora de ritmo, era uma noite agitada de música ao vivo.
A estalagem de dois andares ficava na margem da estrada, entre o centro e o porto, tinha um vagabundo dormindo nos arbustos que rodeavam a construção com uma caneca pendurada em sua mão. As duas se olharam, Inima balançou a cabeça para encorajar Lana a dar o próximo passo e assim passaram pelas portas abertas cuja placa acima dizia “Não permitimos monstros de mais de 2 metros e meio dentro do estabelecimento”.
Uma barreira de pensamentos parece ser destruída com o impacto do som, ainda mais alto e vivo que do lado de fora, ao passar pelo batente. O primeiro instinto de Helana é procurar o quadro onde penduravam solicitações, mas não encontra olhando pelo salão à frente. Tem um homem tocando alaúde em cima de uma mesa, magricelo, com pernas e chifres de bode, sentava no ombro de um homem peludo cheio de cicatrizes no rosto.
A maioria das mesas estavam cheias, via desde vampiros e orcs encapuzados misteriosos que podiam ser bandidos, magos ou alquimistas até. No bar, tinha um anão servindo as bebidas, o homem parrudo ria conversando com seus clientes, a barba trançada com anéis de prata forjados mostrando seu compromisso. A tatuagem de martelo no bíceps denunciava seu segundo trabalho como ferreiro e evocou a memória de Helana, que já tinha ouvido sobre Brahm. Casado com uma bruxa não licenciada, era mais conhecido como Hefesto, sua especialidade em armas e jóias lhe deu reconhecimento tanto em guerreiros como os orcs quanto para os apaixonados e damas de alta classe.
Inima se assustou com o som alto da barriga de Helana, nem tinha parado para pensar que a garota não havia jantado ao chegar em casa. A fadinha apontou a porta da cozinha, por onde passava uma centauro carregando bandejas de porções e sopa.
Diante de tudo, havia algumas opções pela frente…
O que faremos a seguir?
a) Ir até a centauro para pedir o jantar.
b) Se sentar no bar.
c) Procurar uma mesa livre.
d) Pedir um lugar na mesa do bardo.
e) Sair da taverna e procurar o quadro de solicitações pelo lado de fora.
A meta para o próximo capítulo é de 7 restacks! Em caso de empate, vou esperar o oitavo para desempatar :)
Faça sua escolha selecionando a opção que você quer e dando restack, mas não esqueça de deixar um comentário sobre o que está achando, e aceito também sugestões do que pode acontecer. Afinal, estamos criando isso aqui juntos!

Eu gostaria de comentar que eu tenho uma ideia do que vai acontecer no ambiente que será independente das protagonistas, porém onde as personagens estarão e como elas podem participar da cena é completamente diferente e eu não tenho ideia de como vai desenrolar, só depende de vocês!
O plano é não criar tudo em cima das escolhas, porque torna muito fácil criar o que eu quiser pelas escolhas, então vão ter eventos no ambiente pré-definidos que vão ser apresentados e se desenrolar de forma diferente a depender da escolha da maioria!
Se inscreva para as próximas atualizações :D
Procurar uma mesa livre...😘
eu achei divertido. podia fazer uma enquetezinha ali, mais fácil.